segunda-feira, 5 de outubro de 2009

EU ESCOLHI A MÁSCARA OU ELA ME ESCOLHEU?


Jesus!! Nem quero pensar nisso! Eu...Lucas Joufflu?
Quando nos veio a proposta de montagem desse espetáculo, corri para verificar os personagens e quem estava lá? Não! De novo, não! Arlequino (Tabarin)?
Não pude evitar tal pensamento! Minha relação com a comédia, aconteceu com o Grupo Trama Tramóia lá pelos idos de 90. Eu coloquei na minha cabeça que queria, porque queria, fazer o L’Arlequino de Dario Fó...Mas não consegui. Pelo menos, não do jeito que eu queria que ele fosse.
As máscaras da Comédia Del’Arte, necessitam dos movimentos do ator para ganharem vida, no entanto, quando isso lhes é dado, passam a dominar esse corpo. Sem dúvida nenhuma é sinestesia pura!!
Eu não dispunha de tempo suficiente para aprender acrobacias e isso foi determinante na hora de compor o personagem, então, fui transformando esse “bilolado”, porém fascinante figura, em um zanni mais lento e pesado.
Lembra-se da atividade onde deveríamos discorrer sobre os personagens da comédia? Toda aquela parte sobre temperamento sanguíneo dos personagens, é uma pesquisa minha, que faço com os tipos que vou me envolvendo (ou não).
Hoje, olhando tudo com um distanciamento que só o tempo me permite, posso compreender que eu poderia ter resolvido de uma forma mais misericordiosa comigo mesma, construindo um novo caráter estético e psicológico de tal personagem.
Para nosso trabalho, não vou negar que tais pensamentos procuram brechas para se manifestarem, mas me propus um novo caminho – construir minha relação com a personagem, a partir de sua construção arquetípica, ou seja, não uma relação de dentro para fora, como foi do caso do Arlequino, mas uma relação que vai se aprofundando partindo da forma.
Eis minha relação com Lucas Joufflu!! Ou seria a relação de Lucas Joufflu comigo!
Quem escolheu quem?
Como sou eu que estou digitando...
Confeccionar uma máscara trás sempre o desafio de encontrar imagens que traduzam melhor as características físicas e principalmente psicológicas da personagem. Foi então, que na sugestão de encontrar o animal, escolhi as aves de bicos grandes e curvados.
Quanto às cores, preferi manter as tradicionais(marrom café com um mínimo de preto) abusando da “pátina”(ótima sugestão da tutora Luana), que traduz em imagem a idéia de envelhecimento.
Eu gostei muito resultado e espero ansiosa preparar um corpo para essa máscara
Ou será que foi esta máscara que escolheu meu corpinho?
Mistério...

domingo, 4 de outubro de 2009

O PROJETO DA CRIAÇÃO DA MÁSCARA



















Justificando:
Neste bimestre, tivemos como proposta da disciplina Suportes Cênicos, sob a coordenação da professora Sônia Paiva, a possibilidade de conhecer todos os elementos que compõem o espaço cênico. Dentre esses elementos, também foi nos proposto o trabalho com máscaras, onde pudemos conhecer seus vários tipos ( a abstrata, a larvária, a neutra, a meia máscara, a mortuária e a da comédia del’arte. Dentre todas elas, para nossa prática, partimos da confecção da máscara mortuária, que teve sua oficina organizada pelo professor Guto.
Na sequência, conhecemos o texto “Tabarin, guarda de honra”, onde, sob a mediação da tutora Luana,demos continuidade e aprofundamento nas estéticas da Comédia Del’Arte.
Eu, por já conhecer um pouco desse gênero teatral, não consegui me “arredar” dos conceitos que já tinha estabelecido tanto para a construção (formas) da minha máscara, assim como em relação às cores, que para mim, deveriam tender aos tons mais escuros. Diria “clássicos”, por me remeter à tempos em que a tintura dos tecidos eram rústicas.
Embora, para nosso encontro, tivéssemos colocado em pauta a questão da possível montagem desse texto e por isso trabalharmos as estéticas (da comédia del’arte) para desfecho, para alguns membros, prevaleceu, num primeiro momento, à idéia livre tanto nas formas como nas cores cores. Por mais que eu insistisse, a impressão foi de que “não era bem assim que eu queria”. Mas grupo é grupo e a tendência do maior número prevaleceu (com algumas reservas).
Objetivo:
Reunimo-nos no pólo, a fim de pesquisarmos com a ajuda dos outros, quais seriam os personagens da comédia del’arte e como são suas formas. Antes disso, tivemos uma atividade onde deveríamos comentar seus principais personagens. Durante o encontro, partimos da idéia de que para cada personagem da comédia existe um bicho que a corresponde, no entanto, vejo que quanto mais você conhece de seu personagem, mais vai identificando-o no físico e na parte psicológica com algum (s) animais. Como alguns não haviam entendido muito bem a questão larvária/ animal/ personagens da comedia, pediram minha sugestão. Foi assim que eu dei meu entendimento do que seriam os personagens Isabela, Lucas, Tabarin, que possuem como referência arquetípica, dos tipos fixos da comédia del’arte.
Conclusão:
Durante o processo de construção da máscara da comédia, a partir da mortuária, “foi acontecendo”, uma harmonia nas formas, acabando todos os personagens esteticamente bem resolvidos dentro da plástica estabelecida pela farsa “Tabarin”.
Hoje, em nossa oficina final de pintura, partindo da paleta coletiva, também conseguimos uma harmonia nas cores, concluindo nossas atividades de uma forma, eu acredito, satisfatória para todos...Não é mesmo, professora Luana!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ALGUNS TIPOS DE MÁSCARAS

Máscaras, máscaras e mais máscaras...

Muitas perguntas nos vêm à cabeça a respeito da máscara e sua relação com o teatro, com os ritos e à magia. A máscara seja como for, é sempre um melindre, pois ela imita e modifica. No entanto...Qual é seu jogo?
Nos primórdios, os homens primitivos faziam suas máscaras em couro, peles de animais e usadas no rosto e até mesmo no corpo inteiro com uma única finalidade, seduzir sua preza.
Na linguagem teatral, as máscaras, como elemento irracional, são expressões de formas, metáforas, imagens e símbolos, onde o movimento emocional e intencional é dado pelo ator dando suporte da animação para a materialização de uma idéia.
Máscaras representam tipos (seres), que impõem ao ator limites intencionais, para que se tornem teatrais. Sem a energia de um corpo, elas não tem vida, não expressam idéias, tão pouco são dramáticas. No entanto, antes de conhecer suas ideologias, deve-se conhecer o jogo pelos quais ela se movimenta.
O gesto é a vida da máscara , e sua expressividade pode ser tal que prescindem de palavras. As mãos também fazem parte da máscara. Máscara- mãos. As mãos manifestam alegria, esperança, desolação, ameaça, repulsa, sofrimento. As mãos tiram a imobilidade da forma rígida da máscara e lhe dá dramaticidade.

Máscara neutra ou máscara nobre
É a máscara que busca corporificar aquilo que é verdadeiro para toda a humanidade.
Sem expressão particular, transmite calma e estado de equilíbrio. No início era feita de papelão e depois em couro. Buracos na boca e no nariz para respiração, sendo a cavidade dos olhos grandes para que o ator tenha uma boa visão. Sua aparência física são simétricas e simples, sem aparentar idade, emoção, traços e personalidade. Sem passado, preconceitos e princípios.
Prática - Desenvolve a disponibilidade a predisposição de compreender o que é comum à todos. Tira os condicionamentos e libera o corpo. Lecoq encoraja seus alunos a procurarem a “máscara de todas as mascaras” –isto é, a essência, a poesia de todas as coisas que está presente no arquétipo. (fonte: Grupo Moitará/Ana Maria Amaral “Teatro de formas animadas”/
http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=849)

Máscara expressiva
São aquelas que apresentam expressão. Com feições bem calcadas, definem um estado de ânimo. São máscaras inteiras e silenciosas. Cada máscara sugere uma dinâmica. Ao contrário da neutra, são bem variadas. Uma boa máscara expressiva tem a força capaz de transformar a expressão conforme a movimentação. Traz algo de profundo capaz de motivar a sua expressão (reação).
Prática - Cabe ao ator descobrir o jogo que a identifica dando forma ao corpo. A triangulação ressalta suas relações. O jogo pode ser enriquecido com a contra máscara. “Quando o ator a encontra –acontece algo como possessão”. (fonte: Grupo Moitará/Ana Maria Amaral “Teatro de formas animadas”/
http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=849)

Máscara larvária
Como o próprio nome diz, são máscaras em estágios embrionários. Descobertas por Lecoq no carnaval de Basel (Suiça), são estruturas simplificadas da vida humana. Eu as considero como as garatujas das máscaras. Suas formas humanas são grandes, redondas, pontudas, curvas – é o nariz que conduz toda a movimentação facial.Grandes, brancas, lembra um rosto (e por isso eu a chame garatuja), ainda que inacabado. Tais impressões, possibilita jogar entre o elementar e o lírico. A idéia e a pesquisa de um corpo inacabado (estranho/bizarro), pois a máscara começa a esboçar uma personalidade,provoca o imaginário.
Prática - Cada máscara pede seu movimento, sua dinâmica, seu ritmo. Como não permite a voz, necessita de ações. Podem ser jogadas tanto pelo lado animal quanto pelo humano. Têm um jogo orientado pelo nariz. (fonte: Grupo Moitará/Ana Maria Amaral “Teatro de formas animadas”/
http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=849)

Meia máscara
Geralmente são tipos fixos. Usam meia máscara que deixa livre a parte inferior do rosto. Sendo assim, permite a utilização da palavra, que seria dito sem máscara, no entanto, improvisa seguindo a linha de raciocínio da personagem. Projeta partes isoladas do corpo, geralmente nariz e testa. Ex. Dotore e algumas servas da comédia del’ arte – narizes e/ou testas. Clown – somente nariz (menor máscara). Tanto uma como outra, trabalha em cima de “acentos”,em uma natureza profunda – seja do ator ou da personagem.
Prática - O ator deve encontrar corpo e voz da personagem. De um lado trabalha o ator e sua força teatral (Clown). Expressão corporal, exposição às suas fragilidades, fraquezas. De outro lado, dá vida a um personagem, revelando minúcias do mesmo (serva). (fonte: Grupo Moitará/Ana Maria Amaral “Teatro de formas animadas”/
http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=849)

Tipos cotidianos
As máscaras dos personagens não são caricaturas, no entanto, são figuras um pouco exageradas que Sartori compreende como “Tipos do cotidiano”. Ex. professores, políticos, açougueiro, padeiro, etc. Com tendência para a comédia del’ arte, aprofunda-se ao expressar sentimentos mais complexos em seus traços,traduzindo em personagens “tipos”. Ex. o debochado, o orgulhoso, o esperto, o imbecil, o meigo,o malicioso e por aí vai...As máscaras são assimétricas permitindo ricos detalhes
Prática – O trabalho do ator é muito parecido com o da comédia del’arte. Cabe ao ator descobrir o jogo que a identifica dando forma ao corpo. A triangulação ressalta suas relações. O jogo com movimentos menores e sutis, pode ser enriquecido também com uma máscara oposta (contra máscara). (fonte: Grupo Moitará/Ana Maria Amaral “Teatro de formas animadas”/
http://www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=849)

Máscara Abstrata
Com formas geométricas, trabalha a abstração do gesto e o jogo cênico.
Prática – Permite ao ator trabalhar o ritmo do corpo, espaço-tempo,projeção espacial a partir das linhas de força da máscara criando um jogo com ações amplas, acrobáticas e assimétricas.

A COMÉDIA E SEUS TEMPERAMENTOS

A Máscara da Comédia Del’ Arte

Estabeleceu-se que Pantalone é de Veneza, que o Doutore é de Bologna, que os enamorados são de Toscana, que Arlequim é de Bégamo...E que cada um falasse no seu “patois” (dialeto), de modo que o cômico de cada uma dessas linguagens de “vilas” ou “províncias”, desdobrava-se em todos os efeitos picantes que uma Torre de Babel pode ocasionar. (fonte: autor desconhecido)

Enamorados (temperamentos ora melancólicos ora sanguíneo)
Representados por homens e mulheres, tinham a fisionomia descoberta. Belos e “cultos”, falavam com elegância (representantes da Toscana) literária. Podiam ou não serem personagens ingênuos e não muito brilhantes. Embora a tradição não lhes impusessem uniformes, vestiam-se com roupas da moda. A enamorada, segundo a estrutura da trama, poderia ser galanteada por dois pretendentes – um jovem e um velho. (fonte: grupo moitará)

Pantalone (temperamento colérico na velhice)
Conhecido como “decano” ou Magnífico”, é o mais velho da troupe. Típico mercador, Pantalone em algumas ocasiões pode ser representado como um velho bondoso que representa a prosperidade de Veneza. No entanto, na maioria das vezes é representado como um velho avarento preocupado somente com bens materiais. Sempre ocupado com seus negócios, descuida da casa, resultando sempre num engodo arranjado por Arlequim (sanguíneo) ou Briguela (colérico). É um pai autoritário, rigoroso e conservador.
Mácara zoomórfica - Ave de rapina – papagaio. Usa uma larga capa negra com calças (colante de malha) roxas e pantufas turca. Às vezes é representado com um “macacão” (mijão?) vermelho. Sua máscara é de cor marrom café e com um enorme nariz. Seu bigode e pestanas são grisalhos e sua branquinha barba cobre de orelha à orelha, terminando numa grande ponta. À figura angulosa de Pantalone, opõe-se as formas arredondadas do... (fonte: texto de autor desconhecido/Breves Del Teatro – Carlos Robles Cruz – Ed. Uruz)

Dotore (temperamento fleumático)
Este personagem é amigo de Pantaleão e se encontram frequentemente para realizar negócios ou porque são vizinhos mesmos. Esse personagem tem conhecimentos em filosofia, astronomia, letras, medicina e outros domínios teóricos e acadêmicos. Sem dúvida, sempre confunde o grego com o latim e sempre termina dizendo asneiras. Adora dizer palavras de “efeito”(bula de remédio) e frases com citações moralizantes e ridículas fora de hora. Eloquente e fleumática (lento devido seu acúmulo de gordura e intelectualidade). É a satirização da burguesia de sua época com discursos macarrônicos.
Máscara zoomórfica – coruja e porco. Usa uma meia máscara que cobre a frente do nariz. Tem as bochechas rosadas que indicam boa vida e saúde. Chapéu com imensas abas. Veste-se de negro. Não possui barba, mas tem um farto bigode, que dependendo de sua época e posição social ele é colocado para cima ou para baixo. (fonte: texto de autor desconhecido/Breves Del Teatro – Carlos Robles Cruz – Ed. Uruz)

Arlequim (temperamento sanguíneo)
Um pobre diabo nascido em Bégamo, Itália, Arlequino se apresenta como segundo de dois servos. Representa o bom senso popular. Ágil em seus movimentos corporais, puro e encantador, anda sempre encrencado devido sua grande capacidade de cometer erros. É melancólico e romântico – o que o leva a expressar idéias filosóficas absurdas e incoerentes. Arlequim é um extraordinário bailarino, além de executar extraordinários movimentos acrobáticos.
Máscara zoomórfica – macaco e gato. Seu vestuário compõe-se de um “conjunto” bem “surrado” e cheio de rombos com remendos em forma de triângulos e corações de cores azuis, verdes, vermelhos e roxos. Tem ou não, uma capa enfeitada com pele de raposa ou coelho. Usa uma meia máscara negra, que representa os escravos africanos. Outra versão diz que representa os moradores das montanhas de Bérgamo que têm a pele queimada pelo sol. (fonte: texto de autor desconhecido/Breves Del Teatro – Carlos Robles Cruz – Ed. Uruz)

Pulchinela (temperamento melancólico)
Veio de Nápoles. Inicialmente, Pulchinela era um personagem alto e corcunda. Com o tempo se transformou em baixo e gordo. De qualquer forma, este é um personagem duplo, pois se por um lado, ele é grotesco, baixo e corcunda, por outro, seu irmão gêmeo é carismático, sensual e inteligente. Sem dúvida, com o tempo foi se transformando num personagem sonhador e poeta – qualquer coisa como excêntrico e ao mesmo tempo intuitivo e triste.
Máscara zoomórfica – equidna e ornitorrinco. A princípio sua máscara era obscura e mostrava um proeminente nariz ao qual era acompanhado por uns lábios bem grossos. Usa uma blusa “flutuante”. Sua corcunda e em alguns casos barriga, davam-lhe a aparência de um ser digno de escárnio e zombaria. Seu chapéu era em formato de cone pontiagudo. (fonte: texto de autor desconhecido/Breves Del Teatro – Carlos Robles Cruz – Ed. Uruz)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

MÁSCARAS

Ritual da Metamorfose

A origem da máscara foi na pré história e figuravam a natureza. O homem primitivo, se mascarava para caçar, com o propósito de seduzir e manipular sua preza. Ao dissolver sua personalidade através da máscara, ganhava o consentimento de ser ou para aproximar-se das forças da natureza e mesmo dos deuses. Nos rituais, o xamã desenha com pigmentos, uma máscara no próprio rosto. A história nos conta, que na civilização egípcia tinha-se o costume de preparar máscaras funerárias, a fim de que o morto, fosse reconhecido, em sua “viagem”, ao mundo dos espíritos. Dessa época, a máscara mais famosa é de Tutankhamon (séc.XII a.C – Museu do Cairo). Podemos concluir então, que a máscara está muito mais ligada ao homem e sua essência, do que podemos imaginar.

No Teatro
A máscara como elemento cênico aparece na Grécia, lá pelo séc. a. C. Representava a Tragédia e a Comédia. Temos na Tragédia, assuntos ligados à natureza humana – deuses, destino e homens; enquanto que na comédia, temas como sociedade e política eram trazidos à tona (no entanto, “a comédia da existência humana” também pode ser analisada). As máscaras, com seus tipos fixos ( de personagens ou de emoção), eram trocadas várias vezes durante um espetáculo, de acordo com a necessidade dos atores.






Minha história com as máscaras





















Querendo ou não, sempre tem uma máscara da comédia del’arte que nos cabe, não é mesmo? Os arquétipos da raça humana são reflexos de um corpo altamente animalesco e por conseguinte instintivo que o homem tem registrado em seu DNA. Não é a toa que Arlequino arma puçás e boas apenas para garantir um pedaço de pão. Pantalone, o velho babão, que tem no narigão caído, o símbolo de uma virilidade, onde o corpo não acompanha seus desejos. No Dotore, vemos a insensatez da intelectualidade, que quando não transmuta em sabedoria acumula em camadas e camadas de gordura e frases verborragicamente inúteis. Briguela, é capaz de qualquer coisa –qualquer coisa mesmo! Até matar, por um pedaço de pão. Capitão Matamouros – faz seu próprio lob a fim de manter a pose...E Isabela a bela? Se o mundo acabasse e sobrassem apenas as máscaras da comédia, ainda assim, seria possível descrever o ser humano. É incrível a capacidade que a máscara da comédia del’arte tem, de despertar em quem a usa, sentimentos e movimentos corporais que correspondem a ela. Já tive experiências assim, com a máscara do Briguela – é como se ela representasse o lado ruim das pessoas. Eu tenho uma máscara muito boa do Arlequino e um dia levei na escola. Um aluno vestiu a máscara e saiu literalmente pulando feito macaco!! Eu não gosto da palavra incorporar, mas como não me vem outra melhor, eu associo a destreza em improvisar a partir dos canovaccios com esse “estado” psicofísico. Participei da montagem de L’Arlequino – Dario Fó, com o grupo Trama-Tramóia sob a direção de Débora Serretiello. Na mesma época, a Troupe Atmosfera Nômade, a qual nossa diretora fazia parte, estreiou “Uma rapsódia de personagens extravagantes” – que revelava a proposta do grupo -técnica de clown e comedi del’arte. Meu marido nessa época tocava na Orquestra Experimental de Repertório – orquestra regida pelo maestro Jamil Maluf e que tem tradição em óperas – Fizeram o Barbeiro de Sevilha junto com a comédia del’arte. Como uma coisa puxa a outra, a Tiche Viana acabou nos ensinando a confecção das máscaras, a Soraya Saide desenhou nosso figurino e Cristiane Paoli Quito desenhou os adereços e batóquios. Nessa semana que passou, estudamos em Prática de canto a música caipira. Eu acho que o “caipira” tem pontos em comum com o Arlequino, assim como o nordestino. É possível fazer essas pontes?